
O espírito de serviço é o impulso interior que nos move a atuar em benefício do outro e que leva a viver a solidariedade com todas as pessoas.
O serviço manifesta uma condição radical dos seres pessoais: a sua atividade não se esgota na satisfação das suas necessidades, mas abre-se ao relacionamento com outros, permite-lhes sair de si mesmos. Uma vida sem trabalho, sem serviço e sem dom aos outros é uma vida que não deixa marca e se experimenta como inútil, porque não põe nada de seu para enriquecer o mundo (ex: situações de desemprego).
O serviço, além de afirmar a dignidade de quem é servido, manifesta radicalmente a dignidade de quem serve. Servir é uma forma de dom, e só pode dar alguma coisa quem tem algo valioso que lhe “sobre”.
Não sendo um bem material, algo que se possa armazenar, o serviço exige gratuidade/desprendimento, porque corre o risco da liberdade do outro. A gratuidade manifesta-se nas relações onde se dá algo, sem esperar receber nada. Não é regida pela justiça, pelo compromisso.
O serviço é um bem em si mesmo. É um bem para aquele que é servido, mas é sobretudo um bem para aquele que serve. Permanece um bem mesmo quando a pessoa que é objeto da solicitude de alguém não reconhece nem agradece essa dedicação. O maior legado que podemos deixar é a transformação, desde dentro, que podemos provocar nos outros e que simultaneamente provocamos em nós.
O serviço só existe no mundo humano e instaura entre os homens uma relação ética. Quando uma pessoa serve outra, empenha-se na promoção do seu bem e estabelece-se uma relação única entre elas. Na medida em que toda a relação social tem sempre algo a dar e a receber, servir é condição de possibilidade e quadro de realização da existência humana.
O serviço não se resume a tarefas “humildes”, domésticas, de voluntariado, de serviços de saúde: é uma disposição, um modo de encararmos as relações com outros seres humanos (ex: professor, governante, pais…)
A dignidade é uma certa excelência intrínseca e constitutiva, pela qual um ser ressalta entre outros, por razão de um valor que lhe é exclusivo ou próprio. Merece respeito (de respectare – olhar com atenção, considerar, contemplar…)
A pessoa humana tem um valor absoluto que exige que seja tratada sempre como um fim em si mesma e nunca somente como um meio (ser usada). Por isso, o amor (querer algo em si mesmo) é a única atitude adequada face à dignidade da pessoa.
A disposição para servir é a resposta prática ao valor inestimável do outro; é a manifestação do reconhecimento incondicional da pessoa e da sua dignidade. Reconhecimento da mútua grandeza das pessoas, de que os outros não são um número. É necessário educar no serviço: proporcionar ocasiões; ensinar a apreciar a alegria de servir
De alguma maneira, nos débeis, nos dependentes, nas pessoas que não têm qualquer modo de retribuir os serviços que lhes são prestados, brilha de modo mais pleno a sua dignidade, porque só ela brilha. Não há méritos, não há utilidade, só há a dignidade inalienável que cada ser humano comporta.
Trabalhos muito necessários, mas pouco reconhecidos, com pouco prestígio – o cuidado da casa – ou tarefas menos agradáveis – cuidar de certo tipo de doentes – não têm outra justificação senão o serviço. Requerem magnanimidade. Só as pessoas magnânimas, com uma alma grande, serão capazes de se dedicar durante toda a vida ao serviço escondido e sem brilho. No entanto, são as que deixam marca para a vida (mãe, avó…).
O serviço tem uma eficácia transcendente na sociedade. Estabiliza as relações, regenera os indivíduos e capacita-os para experimentar a sua condição pessoal. É mais próprio da condição do ser humano o dar que o receber. A lógica da recompensa rouba-nos a alegria intrínseca de fazer o bem, a beleza do momento de servir.